24 de março de 2010

Evasão

Todos os dias passo pelo Aeroporto de Lisboa. Todos os dias vejo aviões à espera de descolar. Todos os dias me cruzo com passageiros, hospedeiras e pilotos. Todos os dias aprecio estas visões, mas ao contrário do que seria esperado, a minha alma não é acariciada por desejos de evasão. Ela não grita a sete ventos que quer partir para outro lugar, não se demonstra com sede de aventuras. Parece-me que estou demasiado ligada a esta cidade, a esta vida e às minhas pessoas, para lhes querer virar as costas. Sei que um dia não será como todos os outros. Sei que um dia, em vez de passar com indiferença pelo aeroporto, serei eu a sair do autocarro e a dirigir-me para a porta de embarque. Os meus sonhos de viagem estão guardados naquela caixinha que me faz viver e, eventualmente, irei mostrar-lhes a luz do dia, mas por enquanto a minha alma não grita o suficiente para ser levada a sério, limita-se a sussurrar uma cantiga de fantasia.

5 comentários:

  1. Eu levo-te comigo na minha malinha!!!! Mas ja vi que nao queres!!! LOL

    ResponderEliminar
  2. um dia vamos fazer a viagem das nossas vidas... é uma promessa!!!

    ResponderEliminar
  3. "Viajar! Perder países!"
    Fernando Pessoa não viajou e, no entanto, foi como se o tivesse feito... Foram viagens e mais viagens, sobretudo, nos meandros da sua imaginação, ainda que não usasse o coração. Andou evadido; fugiu de si e nunca se encontrou!
    Também tu tens muito dessa personalidade quieta, mas inquieta! Jinhos. Obrigada pela tua evasão.

    ResponderEliminar